quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Entrevista a Jorge Ribeiro de Castro

Desta vez estivemos à conversa com Jorge Ribeiro de Castro, um escritor regional com já duas obras publicadas e alguma envolvência no espectro musical da região. O Jorge é um dos primeiros users que o fórum MetalWood recebeu e vem agora falar-nos das suas obras e vivências, e de algumas perspectivas sobre temas que envolvem o panorama regional tanto a nivel literário como musical.


Dizes que começaste a levar a tua escrita, tanto prosa como a poesia, mais a sério a partir dos 21 anos, o que te fez enveredar pelo campo literário “mais a sério”?
Aos 21 anos, estava no meu quarto quando vi um episódio da série “Are you afraid of the Dark?” que dava no canal Nickelodeon.
Nesse episódio, uma estranha babysitter cuidava de um rapaz traquinas e deu-lhe três livros. Após algum tempo lendo-os, ele depressa se fartou, sem saber que as personagens que apareciam nos livros conseguiam sair dos mesmos e atormentar a sua vida. Não me lembro do final mas sei que disse que iria começar a escrever, que conseguia escrever um livro…


A nível de percurso escolar, achas que o que aprendeste foi o suficiente para desenvolveres a escrita?
O que aprendi na escola serviu apenas para ter certas bases em relação ao Conhecimento, que de nada serviriam se não me motivasse, se não continuasse a mostrar a mim próprio que o importante seria desenvolver o raciocínio e a escrita.
Desde há muito tempo, que achei que o melhor não seria seguir as fórmulas de outros, mas escoar de forma mais nossa o que se aprende, se imagina e se racionaliza.


Sabemos que os teus registos na escrita são algo versáteis e flexíveis, tanto no papel de entrevistador como de poeta/líricista mas também na tradicional escrita em prosa. O que é que te atraiu por estes diferentes registos textuais e já agora o que procuraste/procuras dentro destes?
Foi tudo uma questão de circunstâncias. Fui convidado pelo Marcelo, então baterista, do grupo Requiem Laus, a escrever algumas letras para o mesmo. As letras escritas para bandas são poesias com um determinado fim, já não sendo totalmente o que eu preciso de transmitir mas o que um outro elemento pretende. Não sei se conseguiria escrever para uma banda cujo estilo musical nada tivesse a ver comigo mas aquelas para as quais tenho escrito têm estado satisfeitas com o meu préstimo.
A prosa e a poesia têm o seu lugar mas, a meu ver, a primeira, quando é bem escrita, tende a ultrapassar a segunda pois transmite um maior objectivismo, prendendo o leitor a uma mais sublime magia. Prefiro muito mais escrever histórias porque é o que mais gosto de ler, textos onde cenários e situações discorrem sobre temáticas que surpreendem, ajudem o leitor a se abstrair, façam pensar.


Colaboraste frequentemente com revistas e webzines, como é que isso aconteceu?
Como fui também o manager de Requiem Laus tal pôs-me em contacto com diversas fanzines e magazines de todo o mundo. Tive a sorte de algumas me terem convidado a participar com artigos, histórias e poemas, o que me ajudou a melhorar a minha escrita e a forma de encarar o mundo ao escrever tanto em português como em inglês, já que várias zines eram da Inglaterra, Eslovénia e Finlândia.


Ainda referindo a tua versatilidade, sabemos que tanto optas por escrever em inglês como em português, qual é a tua língua de preferência em cada registo que procuras dominar?
Sempre preferi escrever na minha língua materna, que é o português, sendo muito rica e me proporcionando um maior conforto.
Em relação às letras, escrevo decididamente em inglês pois é o que as bandas me têm pedido, coisa que não me faz sentir mal já que adoro tal língua. No entanto, se quiserem em português ou até em francês não me importarei nada… hehe


A tua estreia literária “De espectros e dor…” foi publicada em 2005, e recentemente em Novembro de 2007 publicaste “Resquícios de estranhas sinfonias”. Podes comparar estes dois momentos a nível de sentimentos, ambições, ou seja o impacto que teve em ti, na tua vida, na tua percepção do mundo e por fim na tua escrita?
Em meados de 2004, enviei o conto “De espectros e dor…” para a Corpos Editora. Melhorei substancialmente o conto e, por ser a primeira vez que veria algo editado, um primeiro passo no mundo da literatura, o momento foi de nervosismo e êxtase. Após a sua edição, detestei a história como estava porque, se tivesse mais algum tempo para a melhorar esta seria muito melhor…

Só no final de 2005 é que comecei a melhorar o conto “Delírios de uma noite sem fim”, que decidi mudar o título para “Resquícios de estranhas sinfonias”. Com este novo trabalho senti-me ainda mais rico, ao me deixar levar pela imaginação. Já que, na altura, também estava a escrever no livro de prosas poéticas “Fugas para uma alma atribulada”, usei essa técnica de brincar com as palavras na história, uma forma de me deixar levar pela majestosidade da escrita.
Em Março de 2006, estava prestes a escrever uma determinada situação, já por si muito trágica pois se referia ao velório de um casal assassinado. Pesquisei na Net sobre o mesmo pois a situação se passava no Séc. XIX, indagando-me, nesse processo de quase estagnação, sobre o que poderia fazer com que a personagem principal, Olivier Dean Pryce, saísse repentinamente, e sozinho, de modo a passar a uma outra situação igualmente importante.
Sem ser esperado, a minha tão querida sobrinha, Ana Sofia, de 16 anos, faleceu e fui ao seu velório. Num misto de tragédia, dor e desespero, pus-me a pensar que talvez não devesse continuar a escrever pois se o fizesse, teria de escrever nessa história.
Esta história foi, em parte, muito difícil, levando-me a pensar quão estranho é o facto de certos acontecimentos se sincronizarem de forma tão absurda.
Em meados de Abril, após muita reflexão, decidi-me a prosseguir com a história. Assim, é possível dizer que a novela “Resquícios de estranhas sinfonias”, tendo muito a ver com a imaginação e a fantasia, também tem um pouco a ver com a realidade.
Tendo como objectivo continuar numa toada mais profissional, em Novembro de 2006 inscrevi-me na “Sociedade Portuguesa de Autores” de modo a ter direitos como autor, o que não tenho em relação ao primeiro livro, e assim ter maior controlo sobre o que dou a conhecer às editoras.


Consegues fazer uma auto-análise da tua evolução na escrita e pessoal desde a publicação do teu primeiro livro para o seguinte?
O 1º livro, “De espectros e dor…” foi terminado no final de 2004 e este 2º, “Resquícios de estranhas sinfonias”, teve a sua conclusão no final de 2006. Nesse espaço de Tempo, tive a oportunidade de melhorar a escrita, muito devido ao facto de estar também a escrever no livro de prosas poéticas, “Fugas para uma alma atribulada”, o que me ajudou a encontrar uma certa identidade pessoal. E isso se poderá notar nas histórias subsequentes…
Em suma, escrevo o que gostaria de ler e os meus padrões de qualidade em relação à leitura nunca estarão longe do meu desejo a nível da qualidade de escrita.


Nas tuas obras publicadas, recorres muito á 1ª pessoa tanto do singular como do plural, é apenas uma opção de escrita tua ou é de alguma forma uma escrita autobiográfica?
Em muito do que escrevo, dou a conhecer a(s) minha(s) personalidade(s), podendo ser através do narrador que é participante na acção ou através das outras personagens. No entanto, é meu desejo que, quem leia o que escrevo, se embrenhe na história, que sinta e pense da mesma forma como o personagem principal, talvez aquilo que passei, senti e pensei, enquanto escrevia a história. Para tal, considero que recorrer à 1ª pessoa é a melhor forma de conseguir isso.


A publicação da tua primeira obra foi levada a cabo pela editora nortenha “Corpos”. Esta editora tem estado muito em voga na edição de obras de jovens autores. Explica-nos como foi o teu percurso na procura de uma editora.
O meu caso, como o de outros autores com quem falei, foi o de dar X em troca de uma 1ª tiragem de pouco menos de 200 exemplares, só se recebendo 10% a partir da 2ª tiragem, cuja resposta em relação à mesma só seria dada um ano após a edição. No entanto, quando o ano findou, a resposta que se teve foi que a Cultura em Portugal está má e que não fariam uma 2ª tiragem.
Sim, esse primeiro livro foi um passo mas também um desacreditar na importância que a Arte tem face à ganância de outros. Claro que agradeço à Corpos Editora pela edição da obra mas daí a achar que ajude os jovens autores, não, porque a nível de promoção e de venda pouco se preocupa. A meu ver, interessa-lhe mais o dinheiro que ganha e, para isso, existem outras editoras que proporcionem uma melhor divulgação.


Porque motivo a tua segunda obra foi publicada pela “Papiro Editora” que tal como a “Corpos” tende a editar obras de novos autores mas com uma abrangência de mercado diferente?
A meu ver, é mais um passo… A Papiro Editora pode apostar em diversos estilos literários mas possui uma diferente forma de trabalhar e, pode ter completado recentemente dois anos enquanto a Corpos já tem sete mas, até agora, tem mostrado se preocupar com a divulgação da obra sendo assim mais conceituada.


Como te sentes em relação á apatia geral tanto do povo português em relação á leitura?
Sei que não sou o único a pensar que a Arte não é apenas de uns eleitos mas que pode ajudar a muitos com uma maior motivação em se indagarem acerca do que os rodeia e acerca do Passado e do Futuro. No entanto, sabendo que existem muitos que não têm paciência para se afastar da banalidade da Vida, dizendo que não têm tempo, apenas entristece-me. A esses, apenas espero que, algum dia, percebam que existe muito mais do que trabalho, novelas e futebol.


E em relação ás editoras portuguesas á indiferença pelos novos autores?
Em relação às Editoras existe sempre aquele factor dúbio que é qualidade/dinheiro e, muitas vezes as duas coisas não se complementam porque existem tantos livros editados/traduzidos de tão pouca qualidade que, sendo de/sobre uma personalidade famosa, vendem muito mais, enquanto outros são relegados para segundo plano ou nem sequer editados apenas porque o autor é desconhecido. Quem está por detrás dessas editoras já não se preocupa com a Arte o que também é desanimador.


Sendo os meios de apoio escassos, o que achas que deveria ser feito para melhorar as condições e facilitar a publicação de mais obras madeirenses?
Deveria haver mais apoios em relação aos autores através de uma maior divulgação, promovendo reuniões semanais dos mesmos em locais que motivem a declamação, a apresentação de textos, quer de prosa, quer de poesia.
Lembro-me de ir, anos atrás, a uma livraria/biblioteca no Bairro Alto, aberta durante a noite, onde existia um bar e que permitia encontros desses. Se houvessem várias aqui, em pontos fulcrais tais como Funchal, Machico, Câmara de Lobos, Santana… tal seria uma forma fascinante de, através da leitura dos textos, a partilha de opinião entre os escritores amadores e os já conceituados, permitir uma interacção construtiva e, por isso, positiva. Se tais lugares não fossem possíveis talvez encontrando um entendimento com as livrarias que estivessem em centros comerciais como a da Fnac e a Bertrand, uma mais valia para ambos os espaços.
Talvez a DRAC e a “Associação de Escritores Madeirenses” não se importariam de participar e os jovens autores poderiam aprender mais sobre as nuances da edição literária já que também as editoras regionais procurariam dar-se a conhecer mais afincadamente sem ser em Feiras do Livro. Essas editoras poderiam talvez encontrar algum/a autor/a de grande qualidade.
De tal forma, a região autónoma da Madeira poderia ser considerada a nível nacional e, a longo prazo, a nível mundial, não apenas um pólo de Turismo mas também de Cultura, uma mais valia no engrandecimento das mentes


Pelo teu percurso literário podemos observar que estás embrenhado no mundo da música especialmente no estilo gótico/metal e outros géneros alternativos, fala-nos sobre o teu interesse em associar-te a estes mundos e como sentes agora as diferenças a nível musical desde a altura que começaste.
Quando comecei a ouvir Metal, em 1990, era muito difícil encontrar bandas dentro do estilo pois nem os Cds nem a Net eram usuais em tal altura, Pré-História para alguns.
Talvez éramos mais fiéis ao Metal porque se ouvia diversos estilos dentro do mesmo género e, se para uns, a moda era ouvir esse género musical, para outros, a Vida não se afastava do que ele transmitia. Era-se mais incompreendido, considerados párias, drogados, satânicos e aberrantes. Tudo designações sem se conhecer as pessoas em questão…
Actualmente, nota-se uma maior facilidade em conhecer novas bandas mas também que as pessoas são mais permeáveis ao estilo em moda, o que provoca a saturação e a perda de qualidade. Se, quem cria, apenas segue o que outros originaram e não o que vai dentro de si, esperando receber muito em troca de dar o que o público deseja, não consegue ser fiel a si próprio e afunda-se quando a moda desaparece. A Arte nunca deverá ser seguir o que os outros desejam pois se tal acontecer torna-se fútil, fraca, demasiado pobre, para ter valor!!!


Visto que te envolves com várias bandas dentro do género do “metal” a nível regional. Como vês o panorama musical regional actual e o que perspectivas que venha a ser?
A região sempre teve bandas de muita qualidade, e grande parte dentro do género Metal, mas a falta de um circuito local onde dar concertos e a desmotivação em relação à promoção fez com que muitas desaparecessem.
Actualmente, com a Net é muito mais fácil às bandas em darem a conhecer o seu valor mas que sejam por serem originais e não mais uma de milhentas a nível mundial.
Talvez com a Easy-Jet as bandas locais possam dar concertos fora começando pela Inglaterra e indo parar a outros países. Acredito que seriam muito bem recebidas porque, como já disse, qualidade não falta.
Sinceramente, gostava imenso que a cena alternativa madeirense se desenvolvesse muito mais e quem estivesse ligado a bares e outros recintos maiores, desse uma oportunidade às bandas porque, numa ilha de mais de 200 000 habitantes, de certeza que público temos. O que é preciso também é promover em demasia os eventos e motivar as pessoas a pagar X por algo que gostem.


E em relação ao teu futuro literário, que procuras fazer a curto, médio e longo prazo?
Como planeias alcançar esse futuro?
Além destes dois livros, que já são passado, tenho muitas mais histórias, escritas ao longo dos anos, que pretendo melhorar e aumentar dada a minha capacidade de imaginação e de interiorização do que consigo fazer a nível literário. Estou a escrever contos, tenho já 15 mas quero 20, para um livro de nome “Como fantasmas e sonhos insanos dançando ao luar”, que mostram uma outra faceta, quiçá mais contemporânea sem descartar o meu favoritismo pelo clássico, em suma, algo que mostra a minha capacidade imaginativa indo ao extremo. Para além disso, a médio prazo, pretendo a edição do livro de prosas poéticas, “Fugas para uma alma atribulada” bem como do romance “Por caminhos arcanos errei”, (que ainda estou a rever), que se passa num castelo alemão, no final do Séc XIX, e se insere pelo mistério, suspense, romantismo, tragédia e crime. Com o passar do Tempo, talvez tenha também a sorte de colaborar com outras revistas mais profissionais e assim mostrar de outra forma o que sou.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Entrevista a Natália Reis

Das terras frias do Norte de Portugal surge-nos um novo talento literário que nos aquece com as suas palavras. Natural de Vila Nova de Gaia, Natália Reis com apenas 18 anos, vê em 2007 o seu primeiro livro “Incongruências da Alma” ser publicado.
O Metal Wood não deixou passar despercebido o facto de Natália ser uma das nossas users, e como tal teve um pequeno “chit-chat”…


Como é que tudo começou?
Tudo começou quando ainda andava na escola primária, a professora perguntou-nos o que queríamos ser quando fossemos grandes. Eu cheguei a querer ser cabeleireira, mas depois cheguei à conclusão de que o que queria mesmo era ser escritora. Desde novinha que leio muito.

Esse gosto pela leitura foi porque te incentivaram a ler?
Não propriamente. Não senti grandes incentivos, não houve grandes estímulos exteriores. Lembro-me de ter ouvido dizer que fazia bem ler, que desenvolvia muitas capacidades e como até era uma criança pacata decidi começar a ler.


Envolves-te muito naquilo que lês?

Envolvo-me muito, completamente, gosto de sentir os livros, de os cheirar, ando sempre com um caderninho para transcrever frases que me despertem a atenção.


Esse sentir foi o suficiente para te impulsionar a escreveres, de que modo é que este cativou-te para a escrita?

Acho que esse processo não ocorreu de forma linear nem é fácil dissociar as duas coisas. Quando leio muito, sinto uma extrema necessidade de escrever. Às vezes abro um livro numa página qualquer e olho para uma palavra ou uma frase e a partir dela começo a escrever algo, pode não ter nada a ver com o que estava escrito, com o que li, mas surge a partir dali.
Há aquela necessidade de criar, de dar forma a determinada ideia ou então nem há ideia. Acho que a minha escrita funciona muito em torno da articulação entre as palavras.


As palavras inspiram-te, e o que mais?

Para além das palavras a inspiração advém de muitas outras coisas, as pessoas, os lugares. Gosto muito de observar de me perder em pormenores, sou capaz de ficar a olhar para um objecto banal e contorná-lo, modificá-lo mentalmente. Uma musica é capaz de me 'inspirar', as cores, a natureza, os gestos e as falas de outrem.


Quais as tuas principais influências?

Na poesia Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Al Berto.
Na prosa não tenho assim muitas influências gosto de ler de tudo, gosto da Natália Correia, José Luís Peixoto, varia um bocado.


Como referiste, absorves as coisas e situações, e o que é que dás de ti, que parte da Natália é visível e identificável naquilo que escreves?

Ora ai está algo que tenho vindo a tentar perceber. O que dou de mim. Não percebo muito bem até que ponto não me dou a mim própria nas palavras.


Mas há um dar, certo?

Sim, é inevitável, não digo que seja uma escrita autobiográfica porque não o é, no entanto muito do que sou está lá na medida em que o sentir muito, o pensar muito, o permanecer e o transformar estão lá.

Quer dizer então que sentes que te entregas mas não propositada ou conscientemente?
Sim, supostamente as emoções poderiam ser totalmente filtradas mas há sempre essa carga emotiva, às vezes sinto um desespero imenso quando estou a escrever.


Tu tens o privilégio de teres conseguido publicar um livro muito nova, como é que surge o "Incongruências da Alma"?

Quando escrevi o primeiro poema que fez depois parte do livro, não tinha em mente esse conjunto final, muito menos o título, foi tudo muito natural. Vi-me com umas boas dezenas de poemas, era nova, achava que estava bom, agora também acho mas mudaria muitas coisas. A escrita evoluiu e há ali muita coisa que hoje acho fraco. Juntei tudo ficava uma compilação agradável, mais tarde notando a discrepância de sentimentos ali patentes, achei que a palavra incongruências faria todo o sentido.


Como é que tu vês a tua geração daqui a uns anos, geração esta influenciada por morangos com açúcar e MTV, achas que num futuro próximo irão permitir a descontinuidade e o embrutecimento social, achas que haverá solução?

Preocupa-me e já pensei nisso muitas vezes. Hoje em dia é difícil encontrar quem consiga escrever frases de forma correcta e o uso dos 'x's é exagerado. Acho muito sinceramente que daqui a uns anos isto estará pior, porque com maus exemplos a tendência é para piorar. Quanto a uma solução, não vejo qual poderá ser. O plano nacional de leitura deveria ser uma boa ajuda, porque de facto incutir nas crianças o gosto pela leitura seria a pedra basilar.


Quanto à publicação do livro, foi difícil o momento de partilha com outras pessoas?

Isso é engraçado porque eu ansiei pelo momento da publicação mas quando ela aconteceu, fiquei com um certo receio da opinião, da exposição, acabou por ser assustador.
Requer uma fase de adaptação sair daquele silêncio.


O processo de "encontrar" editora foi muito penoso?

Não foi muito difícil, até porque mandei para algumas ao mesmo tempo. A editora que me publicou, conheci através de uma apresentação a que fui e, supostamente eles dedicam-se a publicar autores em inicio de carreira.


Visto Portugal ser um país "ingrato" no que toca aos criadores literários e ao interesse pela leitura, ou seja é muito difícil alguém viver da escrita, achas que com as tuas capacidades e apetências na escrita se a tua publicação acontecesse num outro pais europeu, seria diferente? E já agora, gostarias de ver a tua obra (e futuras obras) traduzidas para outras línguas?
Acho que é muito difícil viver da escrita, talvez não seja só aqui mas em todo o lado. No entanto não é impossível. Talvez se fosse num outro pais algumas das questões que dizem respeito à edição, questões contratuais, não fossem tão estranhas, mas não posso assegura-lo.
Em relação a uma tradução, acho uma visão interessante se estivéssemos a falar de um romance mas em relação à poesia faz-me um bocado de confusão, porque muito ou quase tudo está relacionado com a língua, a forma, o ritmo, a rima, os sons.


Porquê a insistência e preferência pela poesia, pensas no futuro explorar outras áreas?
Sim, neste momento ando a escrever um romance e tenho alguns contos escritos. O que dou a conhecer nos blogues são poemas e por vezes excertos de prosas poéticas, que por uma questão prática não são desenvolvidos nesse espaço. Talvez por isso a sensação que não escrevo mais nada.


Ainda bem que mencionas o blogue. A escrita que nos apresentas difere muito daquela com que nos regalas no teu blogue. Para quando o arriscar naquela escrita mais desprendida?

Muito do que tenho no blogue tenciono pôr em livros, aliás escrevi com esse intuito e pus no blogue só para dar a conhecer e receber algumas opiniões. Há lá excertos pequenos de coisas que fazem parte da tal prosa que tenho escrita.
A escrita do meu blogue é diferente por uma simples razão é actual, e o que escrevo agora é muito diferente do que figura no livro. A poesia está mais evoluída, dou mais importância a algos que antes não dava.


O que achas de toda esta proliferação que se verifica nos blogues? Hoje em dia qualquer pessoa pode publicar o que quiser, independentemente da qualidade. No meio de tanta coisa como saber distinguir o que é realmente bom? Será que depois de tanta saturação dá para distinguir o que é realmente bom?
Eu achava que o meu curso me puderia ajudar nisso, até porque debatemos essa problemática -o que é a literatura, o que distingue uma boa obra literária de uma que o não é de verdade.
Cheguei à conclusão que está quase tudo nos recursos, na forma aliada a um bom conteúdo. O conseguir exprimir uma ideia através de palavras que se tornam música, a riqueza vocabular aliada a um articular natural, quase como se uma palavra se devesse seguir a outra.
Também depende do que queremos, se queremos uma historia que prenda e valha por si mesma ou se queremos uma linguagem mais poética, que nos embebede.


Mas tu no papel de leitora, como é que vês esses blogues. Há qualidade ou os facilitismos que este proporciona aliado aos comentários nem sempre sinceros, ilude a pessoa a pensar que sim?
Eu acho que há muita ilusão. Quem escreve está muitas vezes convencido de que o faz bem, e os comentários são normalmente positivos porque são de pessoas conhecidas, e todos se bajulam uns aos outros a fim de se tornarem todos leitores assíduos uns dos outros, é um ciclo que nunca mais acaba. É difícil encontrar-se um blogue bom.


Como é que defines a tua escrita?

Esquizofrénica, fluida, pura, relativamente natural...etérea


Segundo sei tens mais um livro de poesia, para ser publicado. Já tens alguma editora interessada?

Só há pouco é que o mandei e foi só a duas, por isso ainda não sei de nada


O que pensas fazer no futuro?

No futuro tenciono continuar a escrever, espero eu, mais e melhor. Aprender sempre e abranger mais coisas.


Para finalizar, quando é que nos fazes uma à Madeira, e já agora deixa alguma mensagem aos leitores madeirenses que possivelmente irão ler esta espécie de entrevista.

Quando eu for ai talvez me inspire, isso parece muito bonito, a minha mensagem é esperai pois eu hei-de referir a ilha num dos meus livros e há-de ser um best-seller.






www.incongruenciasdalma.blogspot.com
www.sepulcrodaspalavras.blogspot.com




sábado, 1 de dezembro de 2007

Caim- Fnac do Funchal 28/11/2007

Inauguramos este espaço com um vídeo amador no qual podemos ver um pouco da actuação de Caim na Fnac do Funchal.
A equipa do MetalWood vê neste espaço mais um meio de divulgação, mantenham-se atentos porque em breve teremos mais algos, de interesse neste espaço.



vídeo gentilmente cedido por Sara Neves [synThetiK]

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Bem-vindos

A Equipa MetalWood, tem o prazer de vos acolher neste nosso novo espaço.
Aqui serão colocados vídeos, fotos de concertos, como também entrevistas a bandas e a outras personalidades de interesse.
Mantenham-se atentos, a este novo espaço e ajudem-nos a crescer.

Bem hajam todos aqueles que por cá passarem.