Dizes que começaste a levar a tua escrita, tanto prosa como a poesia, mais a sério a partir dos 21 anos, o que te fez enveredar pelo campo literário “mais a sério”?
Aos 21 anos, estava no meu quarto quando vi um episódio da série “Are you afraid of the Dark?” que dava no canal Nickelodeon.
Nesse episódio, uma estranha babysitter cuidava de um rapaz traquinas e deu-lhe três livros. Após algum tempo lendo-os, ele depressa se fartou, sem saber que as personagens que apareciam nos livros conseguiam sair dos mesmos e atormentar a sua vida. Não me lembro do final mas sei que disse que iria começar a escrever, que conseguia escrever um livro…
A nível de percurso escolar, achas que o que aprendeste foi o suficiente para desenvolveres a escrita?
Desde há muito tempo, que achei que o melhor não seria seguir as fórmulas de outros, mas escoar de forma mais nossa o que se aprende, se imagina e se racionaliza.
Sabemos que os teus registos na escrita são algo versáteis e flexíveis, tanto no papel de entrevistador como de poeta/líricista mas também na tradicional escrita
A prosa e a poesia têm o seu lugar mas, a meu ver, a primeira, quando é bem escrita, tende a ultrapassar a segunda pois transmite um maior objectivismo, prendendo o leitor a uma mais sublime magia. Prefiro muito mais escrever histórias porque é o que mais gosto de ler, textos onde cenários e situações discorrem sobre temáticas que surpreendem, ajudem o leitor a se abstrair, façam pensar.
Colaboraste frequentemente com revistas e webzines, como é que isso aconteceu?
Ainda referindo a tua versatilidade, sabemos que tanto optas por escrever em inglês como em português, qual é a tua língua de preferência em cada registo que procuras dominar?
Sempre preferi escrever na minha língua materna, que é o português, sendo muito rica e me proporcionando um maior conforto.
Em relação às letras, escrevo decididamente em inglês pois é o que as bandas me têm pedido, coisa que não me faz sentir mal já que adoro tal língua. No entanto, se quiserem em português ou até em francês não me importarei nada… hehe
A tua estreia literária “De espectros e dor…” foi publicada em 2005, e recentemente em Novembro de 2007 publicaste “Resquícios de estranhas sinfonias”. Podes comparar estes dois momentos a nível de sentimentos, ambições, ou seja o impacto que teve em ti, na tua vida, na tua percepção do mundo e por fim na tua escrita?
Em meados de 2004, enviei o conto “De espectros e dor…” para a Corpos Editora. Melhorei substancialmente o conto e, por ser a primeira vez que veria algo editado, um primeiro passo no mundo da literatura, o momento foi de nervosismo e êxtase. Após a sua edição, detestei a história como estava porque, se tivesse mais algum tempo para a melhorar esta seria muito melhor…
Só no final de 2005 é que comecei a melhorar o conto “Delírios de uma noite sem fim”, que decidi mudar o título para “Resquícios de estranhas sinfonias”. Com este novo trabalho senti-me ainda mais rico, ao me deixar levar pela imaginação. Já que, na altura, também estava a escrever no livro de prosas poéticas “Fugas para uma alma atribulada”, usei essa técnica de brincar com as palavras na história, uma forma de me deixar levar pela majestosidade da escrita.
Em Março de 2006, estava prestes a escrever uma determinada situação, já por si muito trágica pois se referia ao velório de um casal assassinado. Pesquisei na Net sobre o mesmo pois a situação se passava no Séc. XIX, indagando-me, nesse processo de quase estagnação, sobre o que poderia fazer com que a personagem principal, Olivier Dean Pryce, saísse repentinamente, e sozinho, de modo a passar a uma outra situação igualmente importante.
Sem ser esperado, a minha tão querida sobrinha, Ana Sofia, de 16 anos, faleceu e fui ao seu velório. Num misto de tragédia, dor e desespero, pus-me a pensar que talvez não devesse continuar a escrever pois se o fizesse, teria de escrever nessa história.
Esta história foi, em parte, muito difícil, levando-me a pensar quão estranho é o facto de certos acontecimentos se sincronizarem de forma tão absurda.
Em meados de Abril, após muita reflexão, decidi-me a prosseguir com a história. Assim, é possível dizer que a novela “Resquícios de estranhas sinfonias”, tendo muito a ver com a imaginação e a fantasia, também tem um pouco a ver com a realidade.
Tendo como objectivo continuar numa toada mais profissional, em Novembro de 2006 inscrevi-me na “Sociedade Portuguesa de Autores” de modo a ter direitos como autor, o que não tenho em relação ao primeiro livro, e assim ter maior controlo sobre o que dou a conhecer às editoras.
Consegues fazer uma auto-análise da tua evolução na escrita e pessoal desde a publicação do teu primeiro livro para o seguinte?
Em suma, escrevo o que gostaria de ler e os meus padrões de qualidade em relação à leitura nunca estarão longe do meu desejo a nível da qualidade de escrita.
Nas tuas obras publicadas, recorres muito á 1ª pessoa tanto do singular como do plural, é apenas uma opção de escrita tua ou é de alguma forma uma escrita autobiográfica?
A publicação da tua primeira obra foi levada a cabo pela editora nortenha “Corpos”. Esta editora tem estado muito em voga na edição de obras de jovens autores. Explica-nos como foi o teu percurso na procura de uma editora.
Sim, esse primeiro livro foi um passo mas também um desacreditar na importância que a Arte tem face à ganância de outros. Claro que agradeço à Corpos Editora pela edição da obra mas daí a achar que ajude os jovens autores, não, porque a nível de promoção e de venda pouco se preocupa. A meu ver, interessa-lhe mais o dinheiro que ganha e, para isso, existem outras editoras que proporcionem uma melhor divulgação.
Porque motivo a tua segunda obra foi publicada pela “Papiro Editora” que tal como a “Corpos” tende a editar obras de novos autores mas com uma abrangência de mercado diferente?
Como te sentes em relação á apatia geral tanto do povo português em relação á leitura?
Sei que não sou o único a pensar que a Arte não é apenas de uns eleitos mas que pode ajudar a muitos com uma maior motivação em se indagarem acerca do que os rodeia e acerca do Passado e do Futuro. No entanto, sabendo que existem muitos que não têm paciência para se afastar da banalidade da Vida, dizendo que não têm tempo, apenas entristece-me. A esses, apenas espero que, algum dia, percebam que existe muito mais do que trabalho, novelas e futebol.
E em relação ás editoras portuguesas á indiferença pelos novos autores?
Em relação às Editoras existe sempre aquele factor dúbio que é qualidade/dinheiro e, muitas vezes as duas coisas não se complementam porque existem tantos livros editados/traduzidos de tão pouca qualidade que, sendo de/sobre uma personalidade famosa, vendem muito mais, enquanto outros são relegados para segundo plano ou nem sequer editados apenas porque o autor é desconhecido. Quem está por detrás dessas editoras já não se preocupa com a Arte o que também é desanimador.
Sendo os meios de apoio escassos, o que achas que deveria ser feito para melhorar as condições e facilitar a publicação de mais obras madeirenses?
Lembro-me de ir, anos atrás, a uma livraria/biblioteca no Bairro Alto, aberta durante a noite, onde existia um bar e que permitia encontros desses. Se houvessem várias aqui, em pontos fulcrais tais como Funchal, Machico, Câmara de Lobos, Santana… tal seria uma forma fascinante de, através da leitura dos textos, a partilha de opinião entre os escritores amadores e os já conceituados, permitir uma interacção construtiva e, por isso, positiva. Se tais lugares não fossem possíveis talvez encontrando um entendimento com as livrarias que estivessem em centros comerciais como a da Fnac e a Bertrand, uma mais valia para ambos os espaços.
Talvez a DRAC e a “Associação de Escritores Madeirenses” não se importariam de participar e os jovens autores poderiam aprender mais sobre as nuances da edição literária já que também as editoras regionais procurariam dar-se a conhecer mais afincadamente sem ser em Feiras do Livro. Essas editoras poderiam talvez encontrar algum/a autor/a de grande qualidade.
De tal forma, a região autónoma da Madeira poderia ser considerada a nível nacional e, a longo prazo, a nível mundial, não apenas um pólo de Turismo mas também de Cultura, uma mais valia no engrandecimento das mentes
Pelo teu percurso literário podemos observar que estás embrenhado no mundo da música especialmente no estilo gótico/metal e outros géneros alternativos, fala-nos sobre o teu interesse em associar-te a estes mundos e como sentes agora as diferenças a nível musical desde a altura que começaste.
Talvez éramos mais fiéis ao Metal porque se ouvia diversos estilos dentro do mesmo género e, se para uns, a moda era ouvir esse género musical, para outros, a Vida não se afastava do que ele transmitia. Era-se mais incompreendido, considerados párias, drogados, satânicos e aberrantes. Tudo designações sem se conhecer as pessoas em questão…
Actualmente, nota-se uma maior facilidade em conhecer novas bandas mas também que as pessoas são mais permeáveis ao estilo em moda, o que provoca a saturação e a perda de qualidade. Se, quem cria, apenas segue o que outros originaram e não o que vai dentro de si, esperando receber muito em troca de dar o que o público deseja, não consegue ser fiel a si próprio e afunda-se quando a moda desaparece.
Visto que te envolves com várias bandas dentro do género do “metal” a nível regional. Como vês o panorama musical regional actual e o que perspectivas que venha a ser?
Actualmente, com a Net é muito mais fácil às bandas em darem a conhecer o seu valor mas que sejam por serem originais e não mais uma de milhentas a nível mundial.
Talvez com a Easy-Jet as bandas locais possam dar concertos fora começando pela Inglaterra e indo parar a outros países. Acredito que seriam muito bem recebidas porque, como já disse, qualidade não falta.
Sinceramente, gostava imenso que a cena alternativa madeirense se desenvolvesse muito mais e quem estivesse ligado a bares e outros recintos maiores, desse uma oportunidade às bandas porque, numa ilha de mais de 200 000 habitantes, de certeza que público temos. O que é preciso também é promover em demasia os eventos e motivar as pessoas a pagar X por algo que gostem.
E em relação ao teu futuro literário, que procuras fazer a curto, médio e longo prazo?
Como planeias alcançar esse futuro?