domingo, 25 de maio de 2008

Humanure does...The Tiger Lillies

The Tiger Lillies
New Players Theatre

London, Friday 18 April 2008


“And now for something completely different.”

Bem posso usar essa expressão celebrizada pelos Monty Python na sua série “ The Flying Circus”. Desta vez a actuação que fui ver não se enquadra minimamente no espectro do metal. Os The Tiger Lillies são um trio de músicos que interpretam um estilo muito peculiar de música. Diria que é um cabaret cómico-macabro. Ao estilo de saltimbancos numa casa assombrada de qualquer feira popular que tentam vender entradas para uma viagem ao centro de alguma catacumba.

A única diferença é que os The Tiger Lillies são geniais!

Longe do ambiente de arenas, pavilhões ou bares minúsculos em dia de concerto, hoje dirijo-me ao centro do West End londrino. Um teatro pequeno, acolhedor e muito sóbrio. Sinceramente não esperava encontrar tantas pessoas a assistir à actuação. A casa está praticamente cheia. É impressionante se pensarmos que durante cerca de um mês a banda tem vindo a actuar duas vezes por dia.

No centro do palco um piano de cauda e um stand para fantoches. Do lado esquerdo um violoncelo e um serrote, do lado direito, uma mini bateria e uma sanita.

Devo referir que esta actuação incorpora, para além da banda, um show de fantoches (Punch e Judy) e um show burlesco. O tema é “The Seven Deadly Sins”.

A interacção entre o público e os artistas é enorme. O público corresponde aos pedidos vindos do palco e, pasme-se, vice-versa.

É tempo de começar o show!

Desde bebés pontapeados, prova de fezes humanas, consumo de cocaína, intervenções divinas, intervenções diabólicas e serrotes musicais, tudo vale. E é absolutamente brilhante. Para além de serem músicos, são grandes entertainers. Entre músicas, a artista de burlesco aparece com o cartaz correspondente ao pecado, a que a música corresponde, e participa activamente na actuação. Os fantoches abrilhantam a actuação com as sucessivas piadas sexistas, actos sexuais e actos puramente infernais. As letras das músicas variam desde pedófilos, chulos, mortes, espancadores de esposas, tudo misturado com muito humor macabro.

A nível musical estão impecáveis. Todos os instrumentos são tocados com mestria. Até o serrote musical surpreende.

O público vibra durante toda a actuação e não tira os olhos de palco. Falam com os intérpretes e respondem prontamente aos pedidos dos fantoches e companhia.

Depois de uma hora e meia chega ao fim, uma das mais interessantes experiências musicais que já tive o prazer de presenciar. Os artistas saem de palco e juntam-se ao público junto ao stand de merchandise a conversear e a autografar os cds.

Saio do teatro muitíssimo satisfeito e não perco tempo em mandar uma mensagem a agradecer à pessoa que me apresentou estes artistas. Mais uma vez muito obrigado!

E assim, atravessando a ponte em direcção a Waterloo, decido regressar na próxima semana e ver mais uma vez esta magnífica peça de teatro/concerto. Valeu cada penny!

Humanure does...Octavia Sperati, Danny Cavanagh, Liquid Sky, Adastreia

London Barfly, Wednesday 9 April 2008

Viver numa cidade tão grande como Londres tem as suas vantagens (e as suas desvantagens, como verão mais adiante). Com imensa sorte minha consegui descobrir um concerto com a participação do Danny Cavanagh dos Anahema. Aparição única e especial em Londres. Sendo um fã de Anathema não hesitei em adquirir o bilhete e dirigir-me a um concerto, onde não conhecia as restantes bandas.

Sendo o concerto numa quarta-feira, isto implicaria sair do trabalho e ir imediatamente tentar descobrir o local no meio das ruas de Camden Town.

Para quem nunca lá esteve posso dizer que é um sítio peculiar onde se encontra todo o tipo de “fashion/personality statements”. É um sítio pitoresco com enormes mercados de rua e marcado pelo ambiente “alternativo”, criado pelas pessoas que vão colorindo as ruas.

Voltando ao concerto.

A sala situa-se num primeiro andar, é pequena mas aparenta estar bem equipada para a realização de concertos. O bar ainda não está a funcionar, o que leva ao desespero de imensas pessoas. Mas num ápice, uma banda aparece em palco e começa a tocar. São os Adastreia, a apresentar o seu som. Não sou grande apreciador de metal gótico, e esta banda não me faz mudar de ideias. Eles esforçam-se bastante, a vocalista bem tenta chamar a atenção do público, mas mesmo assim a música não me satisfaz. A voz tipo ópera da vocalista mostra que ela sabe cantar e tem potência para impressionar. Os músicos são competentes, com bons pormenores, mas sem impressionar. Só para fãs.

Após rápida passagem pelo bar, aparecem os Liquid Sky em cima de palco. Muito mais rockeiros que a anterior banda, e mais à vontade em cima de palco. A vocalista mostra uma attitude rebelde em cima de palco e o resto da banda acompanha-a, tornando a sua actuação bastante agradável.
Apresentam musicalmente um som que percorre vários estilos: desde o stoner/doom até dark rock, com algumas passagens por riffs mais rápidos e elaborados. A banda é coesa e com boa presença em palco. O seu esforço valeu a compra de um dos seus cds. Well done!

Segue-se o concerto de Danny Cavanagh. É um “set” acústico que incorpora algumas músicas de Anathema e algumas covers. Após pedir o silêncio das cerca de 150 pessoas que se encontram no recinto, a viagem começa por diversas músicas de Anathema. “one last goodbye”, “temporary peace”, “fragile dreams” são algumas das músicas que são apresentadas. O ambiente criado é muito intimista, e as pessoas presentes estão como que paralisadas pela actuação. Seguem-se covers com a participação da vocalista de Octavia Sperati , que apresenta uma voz quase angélica e muito pouco à vontade em cima de palco. Estar em cima de um palco só com uma guitarra acústica não é para todos.

Voltando à primeira frase desta humilde crónica, a desvantagem de viver numa cidade como Londres é que não há transportes públicos a toda a hora e, para quem vive nos arredores como eu, é altura de me por a caminho de casa. Não assisti ao concerto de Octavia Sperati. Fica para a próxima.

Numa análise final posso considerar-me extremamente satisfeito, pois assisti a uma actuação brilhante de um artista já com provas dadas e descobri mais uma boa banda que de outro modo nunca iria descobrir. Afinal de contas é para isso que existem concertos.

De volta às ruas de Camden Town, agora muito menos povoadas, mas com o encanto londrino no horizonte, o frio aperta. As pessoas refugiam-se nos pubs que apresentam uma luz acolhedora e quente. Eu sigo para a estação a tentar escapar do frio e a tentar chegar a casa rapidamente porque no dia seguinte é dia de trabalho. A vida de um apreciador de concertos não é nada fácil.