quarta-feira, 25 de junho de 2008

Entrevista a Headzum


O MetalWood esteve à conversa com Joel - o mentor do projecto “Headzum”. Entre anúncios e revelações, conseguimos desvendar o seu processo de trabalho e quais os conceitos de cada álbum. Este projecto merece sem dúvida todo o nosso apoio, por isso convidamos-vos a descobrirem ou a redescobrirem Headzum.



Olá Joel. Conta-nos para começar quando e porquê surgiu a ideia de criar este projecto?

Olá. Antes de mais gostaria de agradecer as perguntas que me fizeram chegar. Estava a pensar em anunciar algumas coisinhas no meu blogue mas visto que as questões vão muito de encontro àquilo que quero falar, vou optar por anunciar tudo aqui. Quanto à questão: Headzum foi criado em Dezembro de 2006, mais ou menos na altura em que entrei de férias de Natal. Há muito tempo que procurava iniciar algum projecto musical. Tentei a solo e com banda, mas nunca era aquilo que pretendia. Nesta altura conheci a rapariga que é hoje minha namorada, e como Headzum é uma mistura de sentimentos traduzidos em música, decidi que a altura perfeita para me aventurar nesta vida era aquele momento. Desde então não tenho parado: ainda estava a gravar o Maori, e o Anicca já estava a começar. Ia o Anicca a meio e o Harakiri já estava pronto. Acabou o Anicca e ficou o Unicode pronto, ou seja, lancei dois álbuns até à data, mas já tenho outros dois concluídos instrumentalmente. Não posso dizer que seja vício trabalhar na música, porque é algo que faz parte de mim desde bem pequeno. É o que me faz viver e tenho vivido assim, sem parar, desde Dezembro de 2006.



Crias a música sozinho, recorres a algum instrumento propriamente dito ou trabalhas exclusivamente com electrónica?
À excepção dos temas «Zero» e «Myself And God», feitos em conjunto com The9thCell, sou eu quem crio as minhas músicas. A nível de instrumentos costumo recorrer à guitarra eléctrica e aos teclados. O engraçado é que recorro a efeitos de guitarra para dar outro tipo de sonoridade ao que gravo no teclado ou sintetizador. Uma coisa que também gosto de fazer é aumentar ou diminuir excessivamente os tempos ou simplesmente inverter determinado sample e tocá-lo de trás para a frente. A bateria é sempre a primeira coisa a ser feita nas minhas músicas, sendo que por vezes ela mesma é sequenciada por MIDI ou através de samples.



Alguma vez pensaste em juntar uma banda, ou achas que esta forma de trabalho te permite de algum modo ter mais liberdade criativa?
Headzum é um “one-man-project” que conta com vários convidados especiais na voz. Gosto de trabalhar sozinho, mas agora tenho pensado muito seriamente em convidar algumas pessoas para integrar os Headzum como banda. Gostava muito de experimentar trabalhar lado a lado com alguém que tenha as mesmas ambições que eu, e posso dizer que me encontro a tratar disso. Claro que se o fizer, irei impor os limites de sempre. Prefiro dar liberdade criativa aos vocalistas na letra e na forma como cantam os temas, mas há certo tipo de coisas que não gosto que ninguém mexa.



Contas com a participação de diversos convidados (The Skilled Criminal Minds). Como surgem estas participações em “Anicca”? Fala-nos um pouco dos vários artistas que fazem parte deste álbum.
Para a gravação deste álbum contei com algumas presenças, todas elas fantásticas e que sem dúvida não se ficarão por aqui. Headzum acolheu uma vez mais o David (The9thCell / Ashes), já conhecido do meu EP Maori, que uma vez mais provou que dele não posso esperar nada, pois por muito que espere ele vai sempre exceder as minhas expectativas. No «Anicca» fizemos dois temas em conjunto, o «Zero» e o «Myself And God». Conheci-o aquando das gravações do meu EP Maori. Andava à procura de vocalistas e iniciei uma campanha chamada “I Want You To Join HEADZUM”. O David viu o flyer, respondeu e iniciamos de imediato uma coligação forte e única que está aqui para durar. Foi o único vocalista que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, visto que somos da mesma terra. Já o vi ao vivo com os Ashes e apesar de ao fim de três músicas a actuação ter sido cancelada devido ao mau tempo, posso dizer que o estar ali a vê-lo, com a sua garra e voz única, foi muito especial. Apesar de conhecer o trabalho dos Ashes, estava sempre à espera que a qualquer momento saísse dali uma «Red Rotten Socks» de The9thCell ou a «SexMurderArt» dos Headzum! Coisa que não aconteceu mas que me fez pensar em levar este projecto ao vivo. Para outros dois temas, sendo eles «Vedayita» e «Proud New Life», tive a maravilhosa presença da Rita (Edern / Anderskor). A Rita tem uma voz poderosa. Aliás, qualquer um que cante em Headzum a tem. Isto claro, se não contarmos comigo! O que me espantou na Rita foi termos tido uma educação tão diferente e ao mesmo tempo termos tanto em comum. Outra amizade que tem crescido bastante à conta da música. Foi muito complicado para ela terminar a música «Proud New Life», devido a problemas pessoais. Mas não me deixou ficar mal mesmo quando devia e deu-me uma das maiores provas de amizade que pude testemunhar! Para finalizar, foi preciso o João Santos (também conhecido por Gonny dos Glass City Radio) ter aparecido no Domingo de Páscoa para gravar o tema que andou de vocalista em vocalista por meio ano e nunca ninguém o terminou: «Revolution». Tal como todos, ele próprio teve também direito à liberdade criativa para escrever a letra mediante o tema que eu dei e na forma como haveria de inserir vocais, efeitos e segundas vozes. Aprecio bastante o trabalho dele. Ao contrário de Edern e The9thCell, já o conhecia antes de o ver a trabalhar comigo. Não o convidei antes por achar que não fosse resultar, pois criamos géneros musicais algo diferentes. Mas resultou e muito bem e espero contar com ele numa próxima. Já na arte, e para finalizar porque a resposta começa a ficar extensa, Headzum acolheu Hanna Dianow e Isabel Sanches para as capas dos singles e claro, como não podia deixar de ser, a minha namorada, Cátia Cunha, que partilhou o seu doce talento poético no livro do álbum.



Tendo em conta a diversidade existente, suponho que tenhas algumas influências bem distintas. Consigo por exemplo vislumbrar em “Revolution” alguns toques menos barulhentos de Alec Empire ou dos seus Atari Teenage Riot, ou em “Zero” alguns tiques de M.Manson ou até a referência mais óbvia a White Zombie através da cover da “Blood, Milk and Sky”. Esses nomes dizem-te alguma coisa? Que tipo de som costumas ouvir? Quais são as tuas referências principais?

Inexplicavelmente, sempre que falam comigo sobre influências e mencionam bandas, a verdade é que na maior parte das vezes, e como é aqui o caso, nem as conheço e mesmo que conheça pouco ou nada tem a ver. Quando fiz a «Revolution» e iniciei as conversações com o Gonny para inserir os vocais, ambos falamos num só nome: Rage Against The Machine. E penso que essa seja a principal influência deste tema, quer liricamente, quer instrumentalmente. Não me inspirei em nada Industrial para os sons «Zero» e «Myself And God». Tenho como inspiração bandas como Rammstein, Die Krupps, KMFDM, White Zombie… e não em Nine Inch Nails ou Marilyn Manson, apesar de apreciar bastante o trabalho do Manson. Coisa que já não posso dizer de NIN, apesar de respeitar o projecto. Para além disto, tenho como bandas favoritas os Queen, Nirvana, Soulfly, Pantera, Metallica e Sepultura, o que é estranho se tivermos em conta o tipo de som que pratico, pois seria de esperar algo semelhante a esses nomes que referi e no entanto está muito longe disso.



Em relação à cover de White Zombie... porquê White Zombie?
E porquê a “Blood, Milk and Sky”?
Inicialmente ia homenagear os KMFDM com uma cover, no entanto a coisa não correu muito bem e fiquei-me pelos White Zombie, que são sem dúvida alguma, uma das minhas maiores influências. Gostava de ter conseguido ter feito outros temas, quer dos White, quer do próprio Rob Zombie mas já não houve tempo. A «Blood, Milk and Sky» mexe muito comigo quando a ouço. É daquelas que me faz arrepiar dos pés à cabeça. Juntando-se a isto o facto de os vocais serem simples e falados em vez de cantados, e uma vez que teria que ser eu o vocalista pois já não havia tempo para fazer algo mais elaborado ou falar com alguém, optei por esse tema. Penso que, instrumentalmente, esta faixa se enquadra bem em todo o espírito do Anicca.



Tens planos para transportar Headzum para os palcos?
Sim, tenho. E ainda bem que falam nisso. Apesar de já ter dito anteriormente que iria levar Headzum aos palcos e um tempo depois o ter desmentido, a verdade é que, agora mais do que nunca, estou decidido a planear uma mini-tour e conduzir Headzum a outros cantos. Não pretendo, para já, afastar-me muito da minha localidade, mas estou já a delinear uma possível apresentação e a tratar de arranjar alguns elementos para me acompanharem. Não sei para quando, visto que a vida neste momento está complicada e preenchida. Gostava mesmo muito de apresentar o meu próximo álbum, Unicode, ao vivo, e é nisso que estou a trabalhar.



Este álbum encontra-se disponível para download gratuito. Suponho portanto que tenhas uma boa relação com a Internet e com toda a problemática dos downloads. Qual a tua posição em relação a este tema?
A Internet é sem dúvida alguma, o maior meio de promoção musical para alguém que, enfim, poucos meios tem. Visto que ainda não dou concertos ao vivo, não tenho a possibilidade de ver o meu nome a figurar num cartaz e apelar ao público que me venham conhecer. Não consigo, também, chegar a um número maior de ouvidos e ver o meu nome a ser mencionado nas conversas do dia seguinte. Não tenho editora, e deste modo não consigo, também, ver o meu trabalho ser distribuído pelo país fora. No entanto, não tenho intenção de fazer de Headzum um projecto cujo objectivo é ganhar dinheiro. Com a internet, mesmo gratuitamente, consigo fazer chegar um álbum a todo o Mundo. Contudo, esta tarefa é muito complicada, pois requer muito esforço, tempo e acima de tudo muita paciência, para passar horas e horas a promover um álbum na Web. Se eu vendesse, venderia uma dezena de unidades de álbum para álbum. Com esta “problemática” dos downloads, e deva-se dizer que eu não considero isso um problema, consigo, numa semana, passar dos 100 downloads. Para as bandas mainstream, compreendo que a internet seja um problema. Mas a maior parte do dinheiro que se faz é na estrada, e se querem realmente conseguir vender, que lancem os álbuns com algo apelativo e de diferente. Grande parte das bandas optam agora por lançar um CD com um DVD grátis ou um livro, o que já é bom. Há até aquelas que lançam um livro com o CD de oferta. Deste modo o IVA fica muito mais baixo e já não vai causar tantos problemas à carteira do Português.


Quem são “Os Porcos a Valer”? De que modo está esse projecto relacionado com Headzum, ou vês ambas as coisas como sendo totalmente dissociadas?
“Os Porcos A Valer” são uns desenhos animados, criados por mim e por um grande amigo meu, Tiago Rocha. Ambos somos técnicos de multimédia e temos um gosto especial pela animação e por conteúdo menos próprio. Penso que o nome já explica tudo! São desenhos animados baseados na nossa vida escolar, com algumas situações reais e outras fictícias ou bastante exageradas. Temos audições com a TV e temos vindo a preparar um episódio piloto desde o ano passado para negociar com algumas estações televisivas. Como há muito que pretendo fazer um videoclip animado, decidi pegar nos Porcos A Valer e, juntamente com o Tiago, desenhamos a minha banda, com personagens fictícias. Antes de surgir o vídeo propriamente dito, e se é que vai mesmo surgir, estou a preparar pequenos sketchs onde apresento os Headzum & The Skilled Criminal Minds em desenho.



Preparas um vídeo-clip para o tema “Vedayita”. Porquê a escolha deste tema? Como está sendo realizado? Qual o conceito do mesmo?
O tema “Vedayita” foi escolhido para a realização do vídeo pois é um tema bastante cru a nível instrumental e que possui uma mensagem muito forte liricamente. O vídeo está pronto e vai estrear em breve. Infelizmente não pude contar com a presença física da Rita (Edern), mas lá dei a volta ao guião e até que ficou bonito (eheh). Foi realizado, produzido, editado e filmado por mim, estando eu também a representar as personagens existentes. Tive a ajuda da minha namorada, a Cátia, nas filmagens e nos planos. O Anicca é sobre a minha vida, daí que o vídeo também não poderia deixar de ser. Conta a história de alguém que sonha demais. Alguém que prefere ir deixando a realidade e acaba por ser sugado para um mundo completamente imaginário. Acho que vão perceber melhor quando virem o vídeo.



Planeias divulgá-lo pelos meios de comunicação ou apenas pelos meios cibernéticos habituais?
O vídeo será apenas divulgado na internet, pelo youtube e myspace. Nada de mais.



“Anicca” tem algo a ver com inconstância, certo? Poderá de algum modo essa palavra descrever a variedade de sons e pessoas contida neste trabalho? O que querias transmitir com essa palavra?
De facto, o álbum apresenta uma variedade de sons ao longo da sua extensão. E tal teria que acontecer, uma vez que é sobre a minha vida. O Anicca fala muito dos meus sentimentos, da minha relação com a religião e principalmente da minha educação. Fui educado como alguém que não sou e foi preciso muito esforço da minha parte e de grandes amigos meus para conseguir ir mudando isso. Foi preciso apagar muita coisa da memória e começar a vida de novo mais do que uma vez. Felizmente agora está a ir pelo caminho certo. Muito complicado, mas está.


E Headzum, o que significa?
Até à data Headzum apresenta três significados. O primeiro é uma mistura dos nomes de dois guitarristas: Brian Welch (Head / Korn) e Timothy Lincoln (Zim Zum / Marilyn Manson). O segundo, foi escolhido nas gravações do Maori e significa “Hollow Emotion Art Device / Zombie Urged by Madness”. E finalmente, o terceiro, representa a inicial de cada álbum previsto para Headzum: Harakiri; Endless; Anicca; Delos; Zodiakus; Unicode; Maori.



Sendo este um Blogue feito por pessoas da Região Autónoma da Madeira, costumamos perguntar aos nossos convidados o que conhecem desta ilha, a nível musical ou qualquer outra coisa que aches relevante?
A primeira coisa que me vem à cabeça é o Alberto João Jardim eheh. Não conheço a ilha mas está nos meus planos visitá-la assim que possa. Musicalmente conheço muito pouco. Gosto dos Raiva!!!



Que conselhos dás a quem quiser enveredar por um método de trabalho próximo ao teu? Que tipo de material utilizas, como te organizas?

Não querer lucrar com a música ao início acho que é uma boa dica. Uma coisa que faço é nunca procurar um público-alvo, pois gosto de chegar a toda a gente. Da mesma maneira que não quero que rotulem Headzum, eu próprio não gosto de rotular o público. Uso bastante software para a concepção dos meus temas, e algum hardware. Acho que cada um deve procurar tocar aquilo que sente e não enveredar por um determinado caminho só porque está na moda ou porque pode dar dinheiro. Simplesmente vão experimentando coisas. Não apressem nada. A música para mim é uma paixão e trato-a como tal. Dou-lhe atenção, dispenso tempo para ela, tento não me aborrecer, e claro, gosto de mostrá-la ao Mundo.



Para terminar deixo este espaço para que possas dizer o que te apetecer a quem te apetecer da forma que achares melhor. Obrigado Joel e Rock On!
Muito obrigado pela oportunidade que me deram, muitos parabéns pela iniciativa e continuem a promover o que de bom se faz na nossa grande nação. Quero também dar um beijinho muito especial à minha pequenina! Obrigado por tudo. E é só. Vivam o sonho. Não sonhem a vida.




http://www.myspace.com/headzum


Entrevista por Joe

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